segunda-feira, 16 de junho de 2008

Envelhecimento e Cegueira

O envelhecimento da população brasileira está colaborando para que problemas de retina se tornem a principal causa de cegueira. É o que conclui uma pesquisa da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), que mostrou que 35% dos casos de cegueira na periferia de São Paulo estão relacionados a problemas na retina.

Outros 28% são conseqüência de catarata --historicamente a grande vilã da visão-- que causa cegueira reversível, diferentemente da retina --fundamental para a visão pois é onde se formam as imagens. Os números da pesquisa mostram uma tendência, segundo o oftalmologista Rubens Belfort, um dos autores e membro do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia).

"Classicamente, o cego era o indivíduo pobre, de países pobres, em razão de diversas doenças ou da falta de vitamina A. Hoje, nos países mais ricos, há muitos casos de cegueira em razão do envelhecimento", diz.

De acordo com o Censo de 2007, o Brasil tem 11.422 pessoas com mais de 100 anos. Além disso, de 1940 para 2007, a expectativa de vida passou de 40 para 72 anos. Uma das doenças de destaque na pesquisa foi a DMRI (degeneração macular relacionada à idade). A doença é marcada pelos efeitos da luz solar que se acumulam com a idade, levando à morte de células na mácula, porção central da retina acionada na atenção visual.

A prevalência de cegueira nos dois olhos como causa dessa maculopatia foi de 0,25% (nove casos) entre 4.224 adultos com mais de 50 anos. Se contados todos os que apresentaram algum grau da doença, verificou-se que o risco aumentava de 5,1%, entre 50 e 64 anos, para 44,7%, entre 80 e 86 anos.

Segundo Belfort, a população deve estar preparada para detectar esse problema. "Como ocorreu com o auto-exame de mama, em que houve uma educação, também deve acontecer com a visão. Os idosos devem fazer testes de leitura com alguma freqüência. Se perceberem linhas tortas ou inclinadas, devem procurar um médico."

Outra doença comum em idosos e com incidência semelhante foi a retinopatia diabética, causada por alterações conseqüentes do aumento do açúcar no sangue e da diminuição da insulina, que contribuem para a multiplicação de vasos nos olhos e hemorragias.

Leôncio Queiroz Neto, oftalmologista do Instituto Penido Burnier, diz que "com o aumento da sobrevida e com os maus hábitos alimentares, as perspectivas apontam para um aumento de diabéticos em grande proporção, o que impactará também sobre a visão."

A catarata também manteve seu lugar de destaque em alguns aspectos da pesquisa. Ela foi a principal responsável por cegueira em apenas um olho e no quesito deficiência visual. Para os oftalmologistas, os mutirões de catarata colaboraram para que ela não fosse a principal causa de cegueira nos dois olhos. Em 2007, foram 249 mil cirurgias no país, menos que as 450 estimadas como necessárias pelo CBO.

As doenças da retina costumam não receber a mesma atenção, segundo Queiroz Neto, e o acesso aos tratamentos pode demorar alguns meses. Joselito Pedrosa, coordenador de Média e Alta Complexidade do Ministério da Saúde, diz que o órgão tem investido em tratamento e prevenção, e que instituiu o Programa de Combate às Causas Prevalentes de Cegueira, que foca não apenas doenças como retinopatia diabética, catarata e DMRI como procedimentos antes não cobertos pelo SUS.

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